Dona Militana Salustino do Nascimento nasceu no sítio Oiteiros, na comunidade de Santo Antônio dos Barreiros, São Gonçalo RN em 19 de março de 1925, onde viveu até a sua moter. Ela gravou na memória os cantos executados pelo pai. romances originários de uma cultura medieval e ibérica, que narram os feitos de bravos guerreiros e contam histórias de reis, princesas, duques e duquesas. Além de romances, Militana canta modinhas, coco, xácaras, moirão, toadas de boi, aboios e fandangos. Dona Militana faleceu no dia 19-6-2010, aos 85 anos.
Em vida nunca desfrutou de conforto mesmo com seu talento e também não recebeu atendimento adequado quando ficou doente e nem o reconhecimento merecido, quando a prefeitura de São Gonçalo do Amarante, veio lhe conceder uma aposentadoria, ela já se encontrava doente e faleceu pouco tempo depois.
Dona Militana como é conhecida,é considerada a principal guardiã do romanceiro Medieval Nordestino. Em 1998,participou em São Paulo do Espetáculo "Festejando Cascudo" em homenagem ao folclorista Câmara Cascudo promovido pelo Músico Antônio Nóbrega.
Participou também do vídeo "Câmara Cascudo, o provinciano incurável" exibido no ano seguinte na tv Cultura. Em 1999, participou do V Encontro de Cultura Popular, Segundo a pesquisadora Leide Câmara:" Dona Militana é considerada a mais importante romanceira do Brasil e conhecedora de algumas dezenas de peças raras dos romanceiros ibéricos e brasileiros".
“Lá nos Barreiros onde eu nasci,Em São Gonçalo onde eu me criei,Eu vou voltar pra meu sítio Oiteiro,Adeus Rio de Janeiro, adeus.”
(versos cantados por Dona Militana numa apresentação no Teatro João Caetano, Rio de Janeiro, durante participação especial no espetáculo "Lunário Perpétuo", ao lado do brincante pernambucano Antônio Nóbrega)
Romance de Rios Preto – Dona Militana
Rios Preto era um negro
Vivia no escravidão
Recebeu a liberdade
Deu logo pra valentão
Vivia da cartuchera
E do granadero facão
Eles deram numa casa
Dum pobre pai de familha
Certo é que nós levamos
Ou a mulher ou a filha
Eles derom numa casa
Duma pobre mulhé só
O home andava osente
Pra cima pra tá e có
Ele mais dois camarada
Conduzira a casa em pó
A mulé lhe ofereceu
O cavalo do cercado
Nós não qué o seu cavalo
Nós tomo tudo amuntado
Nós querem é a senhora
E dexe de palaviado
Meu marido anda osente
Pra cima por ta em co
E argum dia é de chegá
A cabeça pode ir
Mas o corpo é que não vai lá
Quando os home saíro
Aí o home chego
Mulé munto envergonhosa
Non lhe quis contá históra
Ai vizinha de mais perto
Contaro na mesma hora
Ele tinha dois cunhado
Lhe querium muito bem
Perparara as cartuchera
Sem dizê nada a ninguém
Aonde você morrê
Certo morremos também
Eles encontrar um velho
Que do nego deu nutiça
Saíro se penerando
Cum urubu pra carniça
Eles encontrar um velho
Segurando em uma vela
Rios Preto ta na rede
Brincando com uma bele
Subrinha do Padre Armanço
Que robô ela donzela
Os Oto ta no escuro
Rios Preto ta no claro
Levar uso peito in frente
Todos três lhe atirarum
E Rios Preto sartô
Eles pidir uma luz
Pa Rios Preto caçá
Pu Barroca e pu Baboca
Por ond ele havia stá
Minha gente eu vos peço
Num me acabem de matá
Me levem pa Esprito Santo
Qui eu quero me confessá
Os homes grande de lá
Vinheram logo encontrá
D’ alegria que tiveram
Sortaro fogos no ar
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